Questões de Literatura - Linguagens
Leia o poema de Camões para responder a questão.
“Mudam se os tempos, mudam se as vontades,
muda se o ser, muda se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houve), as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e, enfim, converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía”
A mesma temática presente no poema de Camões pode ser percebida no seguinte excerto do poeta Gregório de Matos:
A relação do ser humano com o mundo pode estabelecer-se por meio da ruptura entre o indivíduo e o lugar por ele ocupado. Em busca de equilíbrio e de afirmação em relação à experiência moderna, esse sujeito expõe sua solidão diante do caos urbano, como se verifica no texto abaixo.
Ramilonga
Chove na tarde fria de Porto Alegre
Trago sozinho o verde do chimarrão
Olho o cotidiano, sei que vou embora
Nunca mais, nunca mais
[5] Chega em ondas a música da cidade
Também eu me transformo numa canção
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
[10] Sobrevoo os telhados da Bela Vista
Na Chácara das Pedras vou me perder
Noites no Rio Branco, tardes no Bom Fim
Nunca mais, nunca mais
O trânsito em transe intenso antecipa a noite
[15] Riscando estrelas no bronze do temporal
Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
O tango dos guarda-chuvas na Praça XV
[20] Confere elegância ao passo da multidão
Triste lambe-lambe, aquém e além do tempo
Nunca mais, nunca mais
Do alto da torre a água do rio é limpa
Guaíba deserto, barcos que não estão
[25] Ares de milonga vão e me carregam
Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
Ruas molhadas, ruas da flor lilás
Ruas de um anarquista noturno
[30] Ruas do Armando, ruas do Quintana
Nunca mais, nunca mais
Do Alto da Bronze eu vou pra Cidade Baixa
Depois as estradas, praias e morros
Ares de milonga vão e me carregam
[35] Por aí, por aí
Ramilonga, Ramilonga
Vaga visão viajo e antevejo a inveja
De quem descobrir a forma com que me fui
Ares de milonga sobre Porto Alegre
[40] Nada mais, nada mais
(RAMIL, Vitor. Ramilonga. In: Ramilonga – A estética do frio. Pelotas: Satolep Music.1997. 1 CD. Faixa 1.)
Com base nessa composição de Vitor Ramil, assinale V (verdadeiro) ou F (falso) para as afirmações a seguir.
( ) O eu lírico movimenta-se livremente, como um andarilho em meio à multidão, ora contemplando, do alto, os telhados das casas em diferentes lugares, ora transformando-se em canção.
( ) Consoante ao caos da cidade, com seu tráfego intenso e multidão apressada, o texto apresenta linguagem rebuscada, através de versos livres, sem preocupação com a rima e com a métrica, apesar de ser uma composição musical.
( ) A ideia contida no fragmento “vão e me carregam”, que aparece repetidas vezes no texto, demonstra a leveza do eu lírico, o que contrasta com a melancolia e a introspecção com que ele olha o cotidiano da cidade.
( ) O verso “Nunca mais, nunca mais”, que finaliza a 1ª, a 3ª, a 5ª e a 7ª estrofes, pode ser entendido como um lamento motivado pela experiência moderna, o que faz com que o eu lírico se afaste e se despeça do contexto urbano.
( ) O texto está escrito em linguagem fragmentada e figurada, como exemplifica a paronomásia presente no verso 37, que ratifica o tom lamentoso o qual perpassa toda a composição.
A sequência correta é